sábado, 16 de maio de 2009

Sobre Inhotim

Eu nunca havia visitado Inhotim, mas sempre ouvira excelentes comentários a respeito do lugar.
Crei uma enorme expectativa sobre da visita realizada dia 8 de maio e, ao chegar lá, fui plenamente correspondida. A paisagem é de tirar o fôlego e as obras expostas são incríveis. A companhia dos colegas, indubitavelmente, contribuiu para que o passeio fosse mais prazeroso e instrutivo, afinal, compartilhamos opiniões sobre tudo o que vimos. Pretendo regressar o mais breve possível.
A primeira galeria visitada foi a de Doris Salcedo. Permaneci nela, junto aos colegas do grupo da intervenão, por cerca de uma hora. Foi uma experiência extremamente rica e recompensadora. Nunca havia contemplado por tanto tempo uma mesma obra e, após a insistência dos professores nesse sentido, me surpreendi com o quão válido é tal procedimento. É somente após algum tempo que nos aprofundamos na leitura da instalação, partindo da primeira impressão para descobrirmos novas interpretações. A primeira sensação transmitida pela instalação, chamada Neither foi de vertigem, que intensificou-se à medida que me aproximei das paredes (atitude tomada por todos do grupo). Telas de ferro e gesso cobrem todas as paredes da galeria. Obsrevamos que nada na instalação parece estimular a permanência do visitante: o espaço é amplo e vazio, a iluminação é fria e há um padrão da grade na parede que se torna exaustivo com o passar do tempo. O nome da obra, uma expressão negativa, igualmente parece ser restritivo, pouco convidativo. Associamos o lugar a uma gaiola e ficamos sabendo que Doris Salcedo realmente prentendeu relacioná-lo aos campos de concentração. Daí, então, deriva o incômodo que o ambiente desperta.
Do mesmo modo, despendemos um bom tempo com a instalação Através, na Galeria Cildo Meireles. Isso se deveu, principalmente, à atenção do guia, que nos explicou inúmeras leituras da obra (próprias, de outros espectadores e de Cildo Meireles). Ele nos mostrou como os cacos de vidro no chão parecem mais assustadores do que realmente são quando entramos em contato com os mesmos, associando essa impressão ao fato de que, às vezes, pensamos que um problema é muito pior do que ele realmente é até que lidamos com ele. Além disso, ele nos mostrou como, do lado de fora da instalação, a bola de papel celofone parece mais iluminada do que realmente está. À essa constatação, aludem as ambições de cada pessoa: sonhamos com algo que, após conquistado, se mostra menos extraordinário do que nos parecia. Durante o processo da conquista (chegada à bola central) é que percorremos os obstáculos (cacos de vidro e barreiras). Ainda segundo o guia, Cildo Meireles teria tido a idéia de criar a bola central da instalação após desembalar uma bala, amassar seu embrulho e jogá-lo no chão; o barulho dos cacos de vidro sendo pisado aproximariam-se, então, do som do papel da bala sendo amassado. Esse guia nos contou que seu fascínio pela arte contemporânea é devido ao fato de que ela admite infinitas leituras; se um visitante fala que os cacos de vidro são o mar, então eles realmente o podem ser.
Dentre as obras que mencionei na postagem anterior sobre Inhotim, Desvio para o vermelho havia sido temporariamente removida para outra exposição.
Nave Deusa, de Ernesto Neto, devido às normas do lugar, não podia ser percorrida pelo visitante, como era desejado pelo artista, o que acabou por limitar um pouco o envolvimeto com a obra.
Forty Part Motet realmente comoveu-me. É belíssimo o canto, e a capacidade de enternecimento é admirável.
Também posiciona-se entre minhas obras prediletas o vídeo Air Cushioned Ride, de Anri Sala. O ermo que reúne e desagrega transmite-me uma deliciosa sensação de liberdade, capacidade de alcançar novos e surpreendentes destinos e conhecer pessoas das mais diversas origens.
"Alguns lugares não guardam edifícios ou datas a serem lembrados, mas produzem sua própria trilha sonora." Frase retirada das anotações de Anri Sala.

Análise dos objetos interativos

Durante a aula de Plástica e Expressão Gráfica do dia 15 de maio, separamo-nos em trios para analisar os objetos de um outro trio. Meu grupo integrou, também, as colegas Cibele e Lívia. Analisamos os objetos dos colegas João, Rafael Gil e Sandro.

O objeto do Rafael Gil é composto por dois cubos, revestidos por uma textura metálica, que se unem através de velcros.
Um som é acionado quando se conecta um cubo ao outro, por isso a importância dos velcros, que induzem o usuário a, justamente, juntá-los; e, à medida que a pessoa movimenta o objeto, ela varia a resistência do circuito, alterando o som.
O objeto tem um tamanho bom para ser manuseado, porém sua forma distoa da maleabilidade proposta pelo movimento necessário para seu funcionamento, e também da ideia de virtualidade, já que é fixa.
O objeto é interativo, e virtual no sentido de ser aberto à ação e ao controle da pessoa que o manipula, completando seu significado somente no processo de uso; e de seus resultados não serem totalmente pré-determinados pelo autor.



O objeto do João Victor é composto por quatro tubos de PVC de diferentes tamanhos, uma mangueira e quatro bolinhas de alumínio.
Ao soprar no interior da mangueira, as bolinhas fecham um circuito cujo output é o acionamento de LEDS de cores diferentes;
cada tubo possui, em sua extremidade, um LED.
O uso do objeto é explicitado pela sua forma, que remete a uma flauta ou cachimbo.
No entanto, o resultado é imprevisível: o usuário, em um primeiro momento, é surpreendido pelo acender das luzes e é incapaz de controlar esse acendimento.
A possibilidade de reverter o uso do objeto é também muito interessante: se ele for virado para baixo, o input, agora, passa a ser o sugar.
A virtualidade consiste na necessidade de um usuário para que seu sentido seja completo.
Por um outro lado, a questão higiênica precisa ser resolvida.

O objeto do Sandro é constituído por um dodecaedro de acrílico, que abriga um circuito responsável pelo acionamento de LEDs.
O fato da forma do objeto, um poliedro, não ser convencional, o torna convidativo. Tal fato é reforçado pela bela aparência do objeto como um todo, além de sua leveza.
O toque nas faces do objeto propicia o acendimento das luzes e, à medida que ocorre o manuseio, há uma gradação bem sutil das cores, como uma espécie de resposta analógica. Daí deriva a interatividade requisitada.
A transparência do objeto auxilia a difusão da luz por toda sua extensão. Assim, a cor domina a forma, o que altera o aspecto do objeto.
A virtualidade reside no fato de que, por si só, o objeto não faz sentido, exigindo um usuário em constante interação.

domingo, 10 de maio de 2009

Processing #2














int x;

void setup() {
size(700, 650, P3D);
smooth();
}

void draw() {
translate(width/2 + 10, width/2, -mouseX*20);
rotate(x);
fill (mouseX,157 ,mouseY, 75);
noStroke();
colorMode(HSB, 100); //HSB corresponde à matiz, saturação e brilho
for (int a = 0; a < 100; a++) { //a++ equivale a operação a=a+1
for (int b = 0; b < 100; b++) {
stroke(a, b, 100);
point(a, b);
}
}
rect(width/2, width/4, 40, x++);
}

void mousePressed() {
background(255, mouseY, mouseX );
}

quinta-feira, 7 de maio de 2009

RESENHA DA EXPOSIÇÃO ARTE CIBERNÉTICA – MUSEU INIMÁ DE PAULA



Este estudo pretende analisar a exposição "Arte Cibernética", que está em cartaz no Museu Inimá de Paula, em Belo Horizonte, do dia 16 de abril ao dia 13 de junho de 2009.

A exposição tem curadoria de Júlio Martins e tem como artistas participantes: Regina Silveira, Raquel Kogan, Rejane Cantoni, Daniela Kutschat, Christa Sommerer, Laurent Mignonneau, Camille Utterback, Romy Achituv, Michel Bret, Edmond Couchot, Eder Santos e o coletivo de artistas belgas LAb[au]. Reúne oito obras do acervo de arte e tecnologia do Itaú Cultural.

A obra “Life Writer”, de Christa Sommerer e Laurent Mignonneau, consiste em uma máquina de escrever que produz seres com aparência insetívora. Trata-se de uma projeção na folha do papel. É o usuário quem dá vida aos seres à medida que datilografa. É possivel, inclusive, esmagar seres já criados.



“Pixflow 2”, do coletivo LAb[au], é uma escultura que, por meio de displays, mostra partículas fluindo em movimentos inesperados. Não há a palpável interação exigida por outras obras, mas o comportamento imprevisível desse artefato é o fator que incita o observar mais atento.



“Descendo a Escada”, de Regina Silveira, resume-se como uma escada virtual que transmite ao público a sensação da descida. Contudo, é o espectador quem deve adequar seus passos à projeção, o que acaba por torná-la menos verossímel e impactante.



“Reflexão #3”, de Raquel Kogan, é composta por vários números projetados na parede e refletidos em um espelho d’água. Os números movem-se com velocidade determinada pelos visitantes. A obra não chega a ser um motivo de pasmo.



“Text Rain”, de Camille Utterback e Romy Achituv, apresenta-se sob a forma de letras que caem como gotas de chuva. As letras interagem com a projeção da silhueta corporal do espectador, em acordo com seus respectivos movimentos. Corpos distintos e suas variadas ações conduzem a resultados artísticos igualmente diversos. Versos de um poema podem ser formados se letras suficientes forem agrupadas ao longo de um contorno. O aspecto arrebatador é incontestável.



“OP_ERA: Sonic Dimension”, de Rejane Cantoni e Daniela Kutschat, é uma espécie de harpa virtual que pode ser tocada pelo participante. A música, ainda que em timbres menos convencionais, sempre comove, sendo um elemento capaz de despertar o desejo de comprometimento com a obra.



“Memória (Cristaleira)”, de Eder Santos, exibe imagens projetadas e fragmentadas em meio a cristais e porcelanas. A platéia restringe-se à meditação, o que rompe o ritmo da exposição, na qual estímulos devem sempre atuar sobre as obras.



“Les Pissenlits”, de Edmond Couchot e Michel Bret, envolve a dispersão de sementes de dente-de-leão a partir do sopro do observador. Os efeitos finais dependem da intensidade e duração do sopro, o que incentiva o visitante a buscar resultados distintos, prolongando o tempo de interação com a obra.



A exposição foca as expressões artísticas agregadas à tecnologia. A interação com o público é presente na maioria das obras, o que leva a um maior envolvimento dos espectadores, que "criam" sobre as criações alheias. Ao contrário da pura contemplação verificada nos museus tradicionais, a influência recíproca entre visitante e arte é essencial para que o propósito último dessas obras seja alcançado, de onde provém a singularidade das mesmas.

Isadora de Castro Silva, acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Objeto Interativo II :: Entrega Final


Na fase de pré-entrega, um tubo de pvc revestido com plástico metálico dava forma ao corpo cilíndrico do objeto. As flores eram de papel metálico e plástico rígido. Não havia um suporte que pemitisse ao objeto existir por ele mesmo, ou seja, dispensar que uma pessoa o segurasse.
A solução para o acabamento foi compor uma estrutura de ferro: apoiado sobre um tripé está o cilindro, que abriga o circuito elétrico. Dentro do cilindro, próximo ao topo, há um apoio horizontal que sustenta as duas flores. A estrutura recebeu, além do zarcão, várias demãos de tinta prateada. Alto falantes posicionam-se no centro das flores. As raízes são sugeridas por fios caídos que partem do interior do cilindro. Os fios têm, em suas extremidades, porcas e um prego associados.
O circuito foi elaborado de forma tal que soldas de fios nas diferentes partes relativas às notas musicais e na parte que origina o fio terra permitem a produção de oito notas distintas a partir do contato do prego com as porcas.
A cor prateada objetiva evidenciar o aspecto high-tech desse bouquet, já sugerido pelos alto falantes e fios aparentes com porcas e prego, pelo ferro e pela forma rígida de um elemento natural tão delicado. Ao explorar a flor, pretendi conferir a mesma a capacidade de estimular, entre outros aspectos, a audição: único sentido que flores naturais não despertam. O tripé remete também a foguetes, outro componente tecnológico.
A interatividade reside na possibilidade de determinar os sons a serem emitidos, sendo que um dó, eventualmente, aciona-se sozinho, já que movimentos leves no fio respectivo são suficientes para fechar o contato que leva à emissão do som. Posso tocar nota por nota ou sacudir e mexer no objeto sem saber quais sons sairão. Contatos acidentais podem produzir barulhos inesperados. É a parte flexível da estrutura (fios) que conduz aos efeitos sonoros, o que pretende sinalizar mais claramente as possibilidades de usos do objeto.
Há duas flores (dois alto falantes) para indeterminar a frente do objeto e ampliar suas formas de posicionamento.
Segue um curto vídeo mostrando o objeto em uso:

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Processing #1



No meu primeiro contato com o Processing, criei uma imagem que, inicialmente, deveria relacionar-se às estrelas. Contudo, durante a montagem, eu estabelecia diferentes associações a cada vez que olhava para a figura , o que me agradou. Resolvi, então, explorar essa lado menos figurativo.

size(410, 220); // cria uma janela de 410 x 220
background(0); // fundo da tela preto
noStroke(); // não exibir a linha de borda dos objetos
smooth();
fill(5,37,237,191); // enchimento c/ opacidade
ellipse(7*width/8, 7*height/8, 25, 25); // desenhar uma elipse
fill(60,70,140);
quad(18, 28, 160, 0, 115, 80, 15, 140);
fill(99,114,209,79);
quad(38, 31, 140, 7, 110, 73, 20, 130);
fill(149,249,252,191);
ellipse(83, 98, 7, 7);
ellipse(90, 130, 7, 7);
ellipse(95, 150, 7, 7);
ellipse(110, 98, 7, 7);
fill(5,37,237,191);
ellipse(120, 95, 7, 7);
ellipse(120, 110, 7, 7);
ellipse(115, 180, 10, 10);
ellipse(150, 120, 7, 7);
ellipse(170, 130, 9, 9);
ellipse(180, 98, 8, 8);
fill(149,249,252,191);
ellipse(350, 140, 17, 17);
ellipse(290, 145, 9, 9);
ellipse(160, 155, 8, 8);
ellipse(120, 150, 12, 12);
ellipse(280, 180, 12, 12);
ellipse(280, 120, 12, 12);
ellipse(330, 160, 13, 13);
ellipse(237, 100, 12, 12);
ellipse(250, 155, 10, 10);
ellipse(270, 200, 10, 10);
ellipse(200, 110, 10, 10);
fill(5,37,237,191);
ellipse(230, 195, 8, 8);
ellipse(290, 200, 12, 12);
ellipse(230, 130, 6, 6);
ellipse(210, 175, 6, 6);
ellipse(200, 200, 8, 8);
ellipse(180, 160, 4, 4);
fill(5,37,237,191);
ellipse(192, 127, 6, 6);
ellipse(157, 195, 4, 4);
ellipse(157, 170, 4, 4);
ellipse(157, 205, 3, 3);
ellipse(178, 187, 6, 6);
noFill();
stroke(149,164,255);
curve(0, 0, 100, 203, 73, 61, 15, 65);
curve(0, 0, 100, 203, 73, 61, 15, 65);
curve(0, 0, 150, 200, 103, 70, 30, 70);
curve(0, 0, 150, 200, 103, 70, 30, 70);

segunda-feira, 4 de maio de 2009

RESENHA DO TEXTO “DESIGN: OBSTÁCULO PARA A REMOÇÃO DE OBSTÁCULOS?”

FLUSSER, Vilém. O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunicação. São Paulo: Cosac Naif, 2007. Design: obstáculo para a remoção de obstáculos? p.194-198.

Vilém Flusser foi um filósofo nascido em Praga em 1920. Ele estudou filosofia na Universidade Carolina de Praga e deu continuidade aos estudos na London School of Economics and Political Science, sem, contudo, finalizá-los, sendo considerado um autodidata. Emigrou para o Brasil em 1940, participando do Instituto Brasileiro de Filosofia a partir de 1950. Em 1960, recebeu o título de professor “por notório saber” da Universidade de São Paulo. Flusser retornou à Europa em 1972, onde faleceu em 1991.
Flusser, em "Design: obstáculo para a remoção de obstáculos?", classifica os objetos de uso como obstáculos aos quais recorro para afastar outros objetos enfrentados e a cultura como a totalidade dos objetos de uso. Assim, em meu caminho, supero barreiras com projetos, designs, que se converterão em novas obstruções para um outrem. “Em outras palavras, quanto mais prossigo, mais a cultura se torna objetiva, objetal e problemática.” Logo, projetos devem ser configurados de forma a suavizar os estorvos e auxiliar o caminhar das próximas pessoas.
Tendo sido projetados por outros homens, os objetos de uso constituem-se como uma mediação entre mim e esses outros homens, possuindo, além do caráter objetivo, um aspecto dialógico, o qual deveria ser realçado. Para tanto, menciona-se que a configuração do objeto permeia a questão da responsabilidade, que é a “decisão de responder por outros homens”, e a opção por responder pela própria criação salientaria a propriedade dialógica e intersubjetiva do design.
Já a criação irresponsável, considerada predominante na cultura, concentra-se unicamente no objeto, “encolhendo o espaço da liberdade na cultura”. A produção de objetos cada vez mais úteis condiciona o progresso técnico, em detrimento do avanço responsável, voltado aos outros homens, que passa a ser entendido como retrógrado.
Por fim, objetos imateriais, como redes de comunicação e programas de computador, são apontados como um possível passo em direção aos projetos responsáveis, na medida em que a ausência de matéria permite que se visualize melhor sua face dialógica e os homens por trás do objeto. É abordada, também, a maior consciência da efemeridade das criações que, depois de descartadas, igualmente impedem o caminho. Desse modo, indica-se a viabilidade de um futuro detentor de uma cultura mais livre, na qual os objetos de uso sinalizam menos obstáculos e mais vínculos entre os homens.
Percebo que o texto de Flusser, escrito há cerca de 30 anos, aplica-se corretamente ao cenário atual, no que tange os problemas e responsabilidades dos designers. A conformação da sociedade é regrada pelos níveis de domínio e poder, e isso se prolonga ao design, conduzindo à necessidade de controle do produto pelo criador. Assim, não há chance de abertura às pessoas.
Concordo que o grande avanço tecnológico deriva da elaboração de objetos de uso específico. Contudo, não se nota progresso igual que leve a uma maior variabilidade na aplicação de um objeto. Almeja-se um projeto perfeito para certa condição, quando a ambição maior deveria ser um projeto que admita que diferentes pessoas o adequem a diferentes situações.
Toda essa argumentação dialoga com Herman Hertzeberger que, em sua obra, Lições de Arquitetura, defende as “formas convidativas”, apropriadas aos diversos contextos que possam surgir e aos distintos seres integrantes dos mesmos. Essas formas acomodariam diferentes interpretações, o que caracteriza a abertura solicitada por Flusser.
Porém, não basta a elaboração de um projeto inacabado para que se atinja o design responsável, capaz de receber leituras variadas. Isso pode resultar em um projeto vazio de qualquer significado ou orientação para a determinação de um uso, o que é indesejado. As estratégias adotadas pelo designer não devem ser inteiramente direcionadas e nem completamente livres. As aplicações do objeto devem ser menos previsíveis, mas não vislumbro como algo factível a elaboração de um objeto isento de qualquer característica determinada.
Flusser sinaliza, com grande clareza e coerência, a importância da criação responsável para a cultura livre, e isso é essencial para que se rompa com o design de produtos de aplicação única, que atulham o espaço circundante. O caminho, então, seria o design de meios que conduzam a elaboração de diferentes objetos finais.

Isadora de Castro Silva, acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).