domingo, 26 de abril de 2009

Inhotim

O Centro de Arte Contemporânea de Inhotim - CACI - abriga um rico acervo artístico contemporâneo em meio a uma belíssima paisagem, permeada por 35 hectares de jardins projetados pelo paisagista Roberto Burle Marx.
Trilhas guiam os visitantes às galerias de arte, espalhadas entre a vegetação.
Há dez pavilhões, sendo cinco dedicados a quatro artistas: os brasileiros Adriana Varejão, Cildo Meireles e Tunga (possui dois pavilhões), e a colombiana Doris Salcedo.
Nos outros pavilhões, encontram-se obras de inúmeros outros artistas, entre os quais estão Vik Muniz, Zhang Huan e Hélio Oiticica.
A conscientização ecológica e cultural também é uma preocupação do CACI, que promove ações educativas, como visitas escolares, que interligam pessoas variadas ao museu.
No dia 8 de maio, visitarei o lugar e, então, poderei apreciar as exposições e o cenário.
Seguem fotos do Inhotim para um vislumbre prévio:

Detalhe do jardim


Parque tropical


Desvio para o vermelho, Cildo Meireles, 1967-84, Foto: Pedro Motta

A obra "Desvio para o vermelho" é formada por três ambientes articulados entre si. No primeiro deles (Impregnação), há diversos objetos de diferentes tons de vermelho. "Nos ambientes seguintes, Entorno e Desvio, têm lugar o que o artista chama de explicações anedóticas para o mesmo fenômeno da primeira sala, em que a cor satura a matéria, se transformando em matéria. Aberta a uma série de simbolismos e metáforas, desde a violência do sangue até conotações ideológicas, o que interessa ao artista nesta obra é oferecer uma seqüência de impactos sensoriais e psicológicos ao espectador: uma série de falsas lógicas que nos devolvem sempre a um mesmo ponto de partida."

A foto, por si só, já causa grande comoção. O vermelho suscita relações de semelhança diversas e, ao ser difundido por todo um ambiente, creio que o abalo provocado no espectador é muito maior. O excesso sempre perturba, e a obra de Cildo Meireles não foge de tal regra geral.

Em termos físico, o desvio para o vermelho é uma medida da velocidade causada pela expansão do universo - uma galáxia com um desvio para o vermelho grande estará a uma distância maior que uma galáxia com um pequeno desvio para o vermelho. Não sei se Cildo Meireles levou tal conceito em consideração, mas julgo bastante válido mencioná-lo visto que a obra, estando bastante "desviada para o vermelho", posicionaria-se longe do planeta Terra. Em outras palavras, talvez Cildo buscasse um ambiente distante dos usualmente encontrados, o que foi atingido.


Adriana Varejão, Celacanto Provoca Maremoto, 2004 - 2008, óleo e gesso sobre tela, 110 X 110 cm cada, 184 peças, foto: Vicente de Mello

"A obra de Adriana Varejão promove uma articulação entre pintura, escultura e arquitetura, revisitando elementos e referências históricos e culturais. (...)A obra Celacanto provoca maremoto (2004-2008) vale-se do barroco e da azulejaria portuguesa como principais referências históricas, mas também da própria história colonial que une Portugal e Brasil: afinal de contas aqui estamos nos domínios do mar, o grande elemento de ligação entre velho e novo mundos no período das grandes navegações. Colocados nos painéis formando um grid, os azulejões fazem referência à maneira desordenada e casual com a qual são repostos os azulejos quebrados dos antigos painéis barrocos. Assim, o maremoto e as feições angelicais impressas nas pinturas formam esta calculada arquitetura do caos, com modulações cromáticas e compositivas, remetendo à cadência entre ritmo e melodia."

A contrário do vermelho de Cildo Meireles, o azul de Adriana Varejão me transmite uma agradável sensação de tranquilidade, apesar da "refrência à desordem".
A superfície da obra, contudo, é realmente acidentada e dotada de fissuras marcadas. Adriana afirma que, com isso, visa "recriar fisicamente o azulejo". Ainda segundo ela, "A superfície craquelada cria texturas diferentes de acordo com a maneira como racha. Parecem escamas. Esse trabalho fala sobretudo do mar na arrebentação. O lugar onde as ondas quebram e as conchas se partem."

A inscrição "Celacanto provoca maremoto" foi popular nos anos 70, sob a forma de pichações nos muros do Rio de Janeiro e depois de todo o país. A enigmática frase despertou o interesse da imprensa, sendo divulgada em revistas e jornais. Durante esse período, Adriana Varejão era uma adolescente e também ficou impressionada com o grafismo presente em todos os lugares do Rio de Janeiro. Era o período da ditadura militar e muitos pensavam que a frase poderia ter teor revolucionário. Por fim, descobriu-se que um jovem de 17 anos fora o criador dos grafites, inspirado em um episódio de "National Kid".


Janet Cardiff, Forty Part Motet, 2001, instalação sonora em 40 canais, com duração de 14’7’’, cantada pelo coro da catedral de Salisbury, dimensões variáveis, foto: Pedro Motta

Na obra Forty part motet, da canadense Janet Cardiff, cada uma das 40 caixas de som reproduz a voz de um cantor do coral da Catedral de Salisbury, "o que permite ao espectador ouvir as diferentes vozes e perceber as diferentes combinações e harmonias à medida que percorre a instalação."

A música sensibiliza-me mais do que a maioria dos outros recursos sensoriais. Então, guardo grande expectativa em relação a essa obra, que deve envolver-me profundamente.


Ernesto Neto, Nave Deusa, tule de lycra, areia, cravo da índia e isopor, 500 x 950 x 690 cm, 1998. Foto: Tibério França

A escultura de Neto pode ser pecorrida pelo visitante. Ele, assim, cria um espaço dentro de outro espaço. A transparência da lycra relativiza os conceitos de interior e exterior, o que, fatalmente, me remete a Hertzberger.


Damián Ortega, Puente, 1997, cadeiras de madeira e palha, corda de sisal, 214 x 374 x 45 cm, Foto: Tibério França

As cadeiras amontoadas constroem uma ponte. Tal obra me lembra da aula de Plástica na qual fomos solicitados a construir objetos usando materiais da sala e todos os grupos acabaram por criar ambientes. Nesse caso, considero que Ortega atende bem aos dois lados, já que a ponte é um objeto, mas, ao dar passagem, constitui-se como um ambiente.


Olafur Eliasson, Viewing Machine, 2001, Aço inoxidável e metal, 190 x 530 cm, foto: Pedro Motta

Inspirada no funcionamento do caleidoscópio, essa obra deve ser manuseada pelo espectador, que, apontando-a para determinado lugar, passa a ver variadas formas. Cada visitante, desse modo, pode ter uma experiência disttinta. A escultura atende perfeitamente aos requisitos do objeto interativo, não?

Objeto Interativo II :: Pré-entrega



Uma parte bem árdua foi concluída: a elaboração do circuito.
Após descobrir que a placa-mãe recebera uma resina (indesejada) que impede novas soldagens, tentei, de todas as formas, unir os fios às partes referentes às notas musicais, já que a remoção da resina exigia sopradores térmicos que não fui capaz de achar na cidade. Após insistir com a solda, executei testes que envolviam desde fitas isolantes até cola quente.
Contudo, a delicadeza e pequenez do circuito inviabilizavam a permanência dos fios nos contatos desejados. Assim, ocorreu-me furar o circuito e executar a solda no restrito espaço liberado. Felizmente, tudo funcionou conforme o ambicionado.
Assim, há o fio terra (prego) que, em contato com os outros oito fios (porcas), deriva na produção de oito notas distintas.

domingo, 5 de abril de 2009

Objeto Interativo

Lygia Clark é uma artista belorizontina que inovou a arte contemporânea, aproximando-a da terapia psicológica. Ela preferia intitular-se como "propositora" a ser chamada de artista.
Em 1959, criou o neoconcretismo, objetivando fundamentar um novo abstracionismo na arte nacional.
Lygia envolveu-se com a pintura, mas eu gostaria de destacar seus "objetos sensoriais", que eram manuseáveis.
Seus trablahos deveriam ser manipulados pelos espectadores, sensibilizando-os e liberando a imaginação.
A artista chamou de Bichos chapas de metal articuladas, que assumiam diferentes formas após a manipulação do publico.

Segue o vídeo de um dos Bichos.


A partir de uma placa fotossensível associada a um dispositivo musical, elaborei o circuito elétrico para uma caixa de música.
Ao abrir a tampa, a placa fica exposta à luz, o que conduz à execução da música.
Contudo, o revestimento aplicado sobre a caixa não bloqueia completamente a passagem de luz. Então, mesmo com a caixa fechada, a música continua tocando em um ambiente iluminado.
Os domínós são uma sugestão para interromper a música, se isso for desejado: basta colocar uma peça de dominó sobre a placa.
Assim, é possível manter a caixa aberta ou fechada, com ou sem música.
A vontade do usuário determina o funcionamento do objeto.
Relacionando tal projeto às lições de Hertzberger, podemos considerar a caixinha como a urdidura que viabiliza o traçado de diferentes tramas. Diversos objetos podem ser guardados e, o dominó, por si só, proporciona distintas brincadeiras.
A caixa já possui sua identidade primária de depósito e ornamento, porém o que depositaremos e o modo como o faremos abre espaço para uma polivalência.

Museu das Telecomunicações :: Oi Futuro II







Para explorar o SketchUp mais um pouquinho, crei um novo objeto relacionado ao Museu das Telecomunicações.
A forma afunilada dialoga com a convergência de informações, as quais derivam de diferentes níveis.
As várias esferas simbolizam a efervescência de dados, dispersos em todas as direções.
O revestimento da estrutura principal mescla fotos do museu: os cartões telefônicos representam o acesso aos instrumentos de telecomunicação, os pontos de luz referem-se aos fios e demais meios de transmissão, ao passo que os telefones são o símbolo máximo da comunicação.
O fundo em tons quentes expressa o "calor" do intenso contato entre os homens. O "chão" alaranjado faz alusão ao interior da Terra, indicando que as informações transmitidas podem ser oriundas da parte mais profunda de um indivíduo.